Ligado à Philip Morris Internacional (PMI), grupo multinacional, há 17 anos, Marcelo Nico assumiu a liderança da Tabaqueira no dia 1 de janeiro de 2021 e, na sua primeira mensagem dirigida à equipa, comprometeu-se em colocar a sua experiência ao serviço da visão de crescimento que a PMI tem para o Grupo.

A Tabaqueira é uma empresa que se destaca no mercado nacional, assumindo um peso relevante na economia do país ao nível das exportações, investimento, inovação e emprego. É, também, uma empresa com história — fundada em 1927 pelo industrial Alfredo da Silva — que fez um notável caminho de evolução e hoje evidência uma cultura progressista, que faz da promoção da igualdade, da diversidade e da inclusão, práticas da sua atividade quotidiana.

Em 2016, a multinacional Philip Morris International, de que a Tabaqueira é subsidiária, partilhou a sua visão para o futuro: a de um mundo sem fumo. O IQOS, um dispositivo que permite o aquecimento de tabaco especialmente concebido e desenvolvido para o efeito, apresenta-se como uma das alternativas aos cigarros e é um dos símbolos desse futuro livre de fumo e com foco na tecnologia e sustentabilidade.

O argentino Marcelo Nico, que chega da África do Sul — onde durante quase uma década foi responsável por oito mercados no Grupo PMI —, é o novo diretor geral da Tabaqueira, e defende que o futuro é de mudança e que essa implica uma nova era de diálogo. Um diálogo franco e consubstanciado na evidência científica, que permita esclarecer e informar a sociedade sobre alternativas menos nocivas.

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Em que medida a pandemia Covid-19 afetou o volume de negócio/produção da Tabaqueira?

Em termos de exportações, em 2020 crescemos 13% face a 2019. Tenho a ambição de manter este registo de crescimento em 2021 e de manter a posição na lista das mais relevantes exportadoras nacionais. A Tabaqueira superou o desafio do contexto pandémico, com as suas pessoas motivadas e com uma reforçada capacidade de entrega e de compromisso em obter resultados. A venda de cigarros no mercado doméstico conheceu uma ligeira redução, fruto também de termos menos turismo, mas ao mesmo tempo, constamos que muitos fumadores decidiram transitar para o tabaco aquecido. Estes são resultados que nos deixam satisfeitos, de forma global.

Em 2016, a PMI anunciava como objetivo abandonar o fabrico de cigarros. Em que se traduz exatamente este objetivo?

A Philip Morris International, de que a Tabaqueira é subsidiária, construiu a empresa de cigarros de maior sucesso, com as marcas deste produto mais conhecidas e icónicas do mundo. Em 2016, como refere, tomámos uma decisão drástica e disruptiva: a de criar e universalizar formas alternativas e menos nocivas de consumir produtos de tabaco e com nicotina. Estamos a mudar o mundo. Pense no que estava a fazer há 5 anos. Parece que não é muito tempo, mas em apenas 5 anos, o nosso negócio de produtos sem fumo passou de nada para uma presença em 66 mercados e aproximadamente 19 milhões de utilizadores em todo Mundo. Ao que sei, não há empresa ou negócio com a dimensão e escala da PMI (e certamente nenhuma empresa tabaqueira) que alguma vez tenha levado a cabo este nível de transformação que já alcançamos. Esta certeza de que estamos a levar a cabo algo que ninguém alguma vez fez não só é muito entusiasmante como também uma fonte de motivação e orgulho.

De que forma é que a PMI e a Tabaqueira podem contribuir para esse ideal?

Mudando o paradigma do negócio e liderando pela inovação e desenvolvimento de produtos menos nocivos, com foco nos consumidores, e movidos por um propósito global de sustentabilidade. Revolucionámos a interação na cadeia de valor — da investigação e desenvolvimento com base na ciência, do cultivo de tabaco aos resíduos pós-consumo, da relação com o consumidor e com as autoridades de regulação, para tanto definindo métricas claras de transformação do negócio. O sistema de aquecimento de tabaco IQOS é um produto sem combustão e fumo, o que permite reduzir significativamente a formação de consituintes nocivos. Embora a sua utilização não seja isenta de risco, mudar completamente para um produto sem combustão, como o IQOS, apresenta menor risco de nocividade comparativamente ao fumo dos cigarros.

Será utópico imaginar um futuro não só livre de fumo como sem nicotina?

A PMI acredita que, com os incentivos regulatórios apropriados — que devem focar-se na diferenciação entre cigarros e o portefólio de produtos sem combustão, e também com o apoio da sociedade civil —, o consumo de cigarros pode acabar em muitos países nos próximos 10 a 15 anos.

Quanto à nicotina, não é esta que torna os cigarros nocivos, nem é a principal causa de doenças relacionadas com o tabagismo. É a combustão a que o tabaco é sujeito. Um mundo sem fumo não é uma utopia; é um objetivo concretizável com a união de esforços e o envolvimento de reguladores e autoridades de saúde pública. Portugal, que sempre foi um país progressista no que respeita às abordagens de redução de risco, pode desempenhar um papel importante. Da minha parte, desejo e estou pronto para esse diálogo.

Portugal foi o quarto país a lançar o IQOS, em 2015. Porquê a aposta de Portugal como um dos primeiros países para o lançamento deste produto de tabaco aquecido?

O sistema de aquecimento de tabaco é, sem dúvida, a maior inovação que alguma vez ocorreu no mercado de produtos de tabaco. O seu lançamento no nosso país tem que ver com o facto de os portugueses geralmente abraçarem a inovação e o desenvolvimento tecnológico, além de constituir mais um voto de confiança na Tabaqueira, que tem sabido manter-se competitiva no Grupo PMI.

Quanto tempo demorou o desenvolvimento deste dispositivo e que tipos de profissionais estiveram envolvidos?

Ao longo das última duas décadas, a PMI tem vindo a trabalhar na investigação e desenvolvimento de produtos de risco reduzido, que envolve uma equipa multidisciplinar de mais de 430 cientistas e especialistas, de diferentes áreas, incluindo das ciências vivas às engenharias. A PMI investiu até hoje mais de USD 8,1 mil milhões (6,7 mil milhões de Euros) em investigação fundamental, desenvolvimento comercial de produtos tecnologicamente inovadores de administração de nicotina sem combustão, bem como a sua substanciação científica, capacidade de produção e estudos de perceção junto de fumadores adultos.

Nas última 2 décadas, a PMI tem vindo a trabalhar na investigação e desenvolvimento de produtos de risco reduzido, que envolve uma equipa multidisciplinar de mais de 430 cientistas e especialistas, de diferentes áreas. | Ilustração: Teresa Dias Costa

Passar a produzir este dispositivo em Portugal faz parte dos objetivos da Tabaqueira? De que dependerá a concretização desse objetivo? Até quando gostaria de o ver concretizado?

A reconversão das linhas de produção da fábrica de Albarraque para a produção do produto de tabaco aquecido “HEETS” é uma das nossas ambições. Dependerá de muitos fatores, mas diria que temos que continuar a manter-nos competitivos dentro do Grupo e apresentar argumentos que contrariem políticas agressivas de captação de investimento por parte de países terceiros. Para a Tabaqueira poder receber investimento de expansão, é necessário ter políticas públicas consistentes e apostar em inovação ao nível regulamentar e fiscal.

Podemos dizer que o IQOS foi o motor de uma mudança de cultura da PMI, com maior enfoque na ciência, tecnologia e sustentabilidade — ou ele foi uma consequência de uma mudança que já tinha ocorrido?

O IQOS materializou uma visão. Não foi o produto a determinar a mudança. Investimos muitos milhões de euros nesta visão. O IQOS é uma das faces visíveis desse processo radical de transformação rumo a um futuro sem fumo.

De que outras formas é que a aposta na ciência, inovação e sustentabilidade se manifestam na atuação da empresa?

O compromisso da Tabaqueira para com a sustentabilidade é transversal a toda a sua atividade, procurando minimizar as externalidades negativas associadas ao consumo dos seus produtos, operação e cadeia de valor. Desenvolvendo produtos sem combustão e fumo, é possível reduzir a nocividade. Temo-lo feito através da inovação, desenvolvimento e substanciação científica. O nosso programa de substanciação científica, uma vez completado, permite concluir que, embora não isentes de risco, para as pessoas que decidem continuar a fumar, as alternativas sem combustão apresentam menor risco de nocividade comparativamente ao fumo dos cigarros.

Quem procurar saber mais pode consultar o nosso Relatório Integrado 2019.

Porquê a aposta no tabaco aquecido em detrimento de outros produtos alternativos ao tabaco convencional, como os cigarros eletrónicos, por exemplo?

A nossa transformação de negócio é substanciada pelo desenvolvimento científico. Todos os nossos produtos são submetidos a testes rigorosos, incluindo estudos não clínicos e clínicos. A prioridade da PMI tem sido, ao longo das últimas décadas, o desenvolvimento de um portefólio de produtos sem combustão, que inclui também cigarros eletrónicos, que, fundamentados por evidência científica de redução do risco individual e da nocividade para a população por comparação com o consumo de cigarros, sejam aceites como substitutos daqueles pelos consumidores. Em suma, não desenvolvemos produtos de tabaco aquecido apenas. Temos produtos com tabaco e sem tabaco na sua composição, mas todos eles disponibilizam nicotina sem envolvimento de combustão, nem produção de fumo, que é constituído por partículas sólidas de carbono e numerosos constituintes nocivos ou potencialmente nocivos.

Uma das desconfianças por vezes referida relativamente ao tabaco aquecido tem que ver com as expetativas goradas em torno da inovação dos cigarros light ou com filtro, no que toca à redução de danos. Não receia que possa suceder o mesmo?

A decisão da Agência Americana para a Segurança Alimentar e do Medicamento (U.S. FDA), em julho de 2020, foi uma decisão histórica: confirmou que o IQOS é claramente diferente dos cigarros, porque não tem combustão. Tal reduz a formação de constituintes nocivos. E existem estudos que demonstram uma redução de exposição a constituintes químicos nocivos ou potencialmente nocivos, referindo ainda que esta informação deve ser comunicada de forma clara aos consumidores para os ajudar nas suas opções. O IQOS é, assim, a primeira alternativa eletrónica inovadora aos cigarros, à data, a obter autorização de comercialização enquanto produto de tabaco com exposição modificada, decidida com base na totalidade da evidência científica disponível até ao momento. A Agência concluiu que a evidência científica disponível demonstra ser expectável que o sistema IQOS beneficie a saúde da população no geral, quer dos utilizadores de produtos de tabaco, quer das pessoas que atualmente não consomem produtos de tabaco.

Que objetivos/metas que têm para 2021 e anos seguintes?

Até 2025, a PMI tem como objetivo transferir mais de 40 milhões de fumadores adultos para produtos alternativos sem combustão, reduzir para metade os resíduos plásticos dos nossos produtos e, no final desta década, alcançar a neutralidade carbónica nas nossas operações diretas. No caso de Portugal, talvez consigamos antecipar esta meta. Até 2050, toda a cadeia de valor da empresa tem de ser certificada como “zero emissões”.

Qual a expectativa no que toca à possibilidade de vir a ter o IQOS como um dos recursos aceites e usados em processos de cessação tabágica, como já sucede no Reino Unido?

O tabaco aquecido é claramente um produto diferente, e uma melhor alternativa, para os fumadores que continuam a fumar. Dito isto, consideramos que ninguém deve começar a fumar — sobretudo os menores — e que quem fuma ou consome quaisquer produtos com tabaco e/ou nicotina o deve deixar de fazer.

Quanto aos desenvolvimentos legislativos em Portugal, pensamos que — como, aliás, vem sendo o caso noutros países desenvolvidos — devem incorporar a necessidade de um tratamento diferenciado de produtos inovadores, que, pela sua natureza e na medida em que não envolvem combustão, são diferentes e potencialmente menos nocivos para os fumadores adultos que não deixam de consumir produtos de tabaco. O enquadramento legal deverá, por isso, facilitar essa transferência como forma de promover uma rápida redução da nocividade global dos produtos de tabaco combustíveis.

A Tabaqueira vai esforçar-se por estabelecer um diálogo construtivo com os decisores políticos e as autoridades reguladoras, pretendendo que se envolvam na jornada de transformação do negócio do tabaco que estamos a protagonizar.

Cerca de dois milhões de pessoas fumam em Portugal, e dessas, 300 mil já mudaram para soluções como o tabaco aquecido, o que mostra que a possibilidade de apostar numa alternativa eficaz de política de prevenção do tabagismo através da redução de risco poderá fazer sentido.

A Tabaqueira está preparada para a eventualidade hipotética de os estudos que se venham a fazer poderem vir a revelar danos a longo prazo que desaconselhem o uso do tabaco aquecido?

Para a Tabaqueira, é inquestionável que a melhor opção se encontra sempre do lado da prevenção e da cessação do consumo de produtos de tabaco, e que qualquer fumador adulto que tenha preocupações de saúde deve deixar de consumir quaisquer produtos de tabaco ou à base de nicotina. Contudo, de acordo com dados da própria Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de homens e mulheres que irão continuar a fumar irá manter-se praticamente estável num futuro próximo, e para esses, faz sentido a disponibilização de alternativas que tenham o potencial de ser menos nocivas que os cigarros. Para estes fumadores, existe uma alternativa. Não sendo o tabaco aquecido um produto inócuo ou isento de riscos, é uma melhor alternativa aos cigarros, conforme tem vindo a ser amplamente comprovado por evidência científica independente e entidades oficiais internacionais.

Há outras tecnologias em estudo/desenvolvimento pela empresa?

Como referi antes, a ciência é o motor da empresa. Desde 2008 a PMI investiu mais de USD 8,1 mil milhões (6,7 mil milhões de Euros) em investigação fundamental, desenvolvimento comercial e de produtos, substanciação científica, capacidade de produção e estudos de perceção junto de fumadores adultos. Em 2019, a PMI ficou em 45.º lugar na lista de organizações que registaram mais patentes junto da União Europeia, pelo Instituto Europeu de Patentes, e a única empresa do setor no TOP 50. Em 2019, a PMI tinha 5800 patentes concedidas relativamente a tecnologias livres de fumo.

Continuamos hoje e continuaremos amanhã a jornada de investigação, desenvolvimento e inovação que nos permitirá chegar ao nosso objetivo: um futuro sem fumo.

No PMI Investor Day, que decorreu em Fevereiro deste ano, pudemos partilhar, de uma forma clara e inspiradora, as novas áreas de negócio que estamos a desenvolver. A partir do maior conhecimento científico e desenvolvimento tecnológico conseguido nos últimos anos, novas oportunidades começam a ganhar forma e vão além dos produtos com nicotina, sobretudo na área da botânica e das tecnologias relacionadas com a inalação de fármacos, que, desenvolvidas em conjuntos com outros parceiros, podem oferecer novas soluções para fins médicos. Acreditamos, claramente, que o nosso futuro passará cada vez mais por estas áreas, almejando não apenas um futuro sem fumo, mas, sobretudo, um futuro melhor.